Hoje, tanto adultos como crianças estão expostos a um tipo de pressão muito silenciosa, mas altamente eficaz: a de parecerem certos, aceitáveis, encaixados. As redes sociais reforçam essa pressão com padrões implícitos de comportamento, imagem e sucesso, que vão sendo interiorizados de forma quase automática. Com o tempo, o que vemos é uma tendência clara para o apagamento da espontaneidade e da autenticidade — e isso tem consequências emocionais sérias, como ansiedade, insegurança ou cansaço identitário. O regresso à rotina, ao trabalho e à escola é, para muitas pessoas, um momento em que se volta também a vestir uma personagem social. Um dos dados mais significativos do nosso estudo foi perceber que muitos entrevistados associam o início do ano laboral ou letivo à necessidade de ‘voltar a esconder o feitio’ para não gerar conflito ou para facilitar a aceitação. Isto levanta questões relevantes sobre como estamos a educar — e a ser educados — para a conformidade.
Equipa de investigadores da Behavior Insights Unit da CATÓLICA-LISBON
Por outro lado, o “defeito” é interpretado como algo mais negativo, específico e, em alguns casos, até modificável. O limiar entre um e outro, no entanto, é fluido, relacional e contextual. Muitos participantes referem que certos traços — como teimosia, frontalidade, sensibilidade ou timidez — são vistos como defeito num contexto e como valor noutro.
Há também uma leitura interessante sobre como a maturidade, a experiência e o autoconhecimento podem transformar a perceção sobre esses traços ao longo da vida.
Ser frontal pode ser lido como sinceridade ou como agressividade. Ser reservado pode ser visto como timidez ou como discrição. O que o estudo nos mostra é que estamos sempre a negociar os nossos traços com os contextos à nossa volta.
Equipa de investigadores da Behavior Insights Unit da CATÓLICA-LISBON
Os participantes reconhecem traços como teimosia, impaciência ou rabugice, mas associam-nos frequentemente a pessoas queridas, próximas, e até com algum carinho. O chamado “mau feitio simpático” é valorizado por muitos como sinal de autenticidade — desde que haja empatia, coerência e bons valores.
O objetivo foi compreender, com base em análise comportamental e psicológica, de que forma os portugueses vivem e ajustam a sua identidade em diferentes contextos sociais, e como lidam com a sua autenticidade num mundo cada vez mais normativo.
A investigação foi promovida com o apoio da marca Limiano, no âmbito da campanha “Feito de Feitio”.